domingo, 21 de junho de 2009

Como atrair boas vocações

Peço desculpas ao leitor e à leitora se o título deste texto promete mais do que pode oferecer. Na verdade, eu não tenho uma fórmula mágica para con­ seguir boas vocações, embora tenha tido a graça de acompanhar algumas delas. A úl­tima surpresa foi um breve e-mail que re­cebi de uma jovem adulta, já formada:
"Meu coração arde pelo Senhor e penso que não posso mais negar minha vocação. Ainda não cheguei no momento da eleição no EVC, portanto quero ser prudente e pa­ciente". O EVC é a experiência dos Exer­cícios Espirituais na Vida Cotidiana, se­guindo a metodologia inaciana. A "eleição" é o objetivo central dos Exercícios. Con­siste na descoberta da vontade de Deus sobre o e a exercitante.
Atrair vocações no Brasil, neste mo­mento, sobretudo no Norte e no Nordes­te, não parece difícil. As "novas comuni­dades" e os "movimentos", que os nossos teólogos consideram "fundamentalistas " , têm suas casas e seminários cheios. São boas vocações? Só Deus sabe. O tempo mostrará a que vieram. O que sim pode­mos afirmar é que é menos ruim ter uma paróquia sem padre do que uma paróquia com um padre problemático. E toda supe­riora provincial preferirá ter uma Província pequena, mas de irmãs unidas e identi­ficadas com o carisma da congregação, do que um bando de religiosas divididas ou "franco-atirador".
Um grupo de jovens irmãs me dizia, com humor, que sua congregação fazia "propaganda enganosa" na pastoral vo­cacional: todos os folhetos e o site da congregação apresentavam religiosas jo­vens, bonitas, sorridentes... Pareciam tão felizes que suscitava nas jovens - espe­cialmente as do interior, e de maneira especial nas jovens com problemas fami­liares, carência afetiva etc - o desejo de serem daquela forma: livres, alegres e "felizes para sempre". AÍ, entram na congregação e encontram uma realidade muito diferente.
Uma pessoa que está em alto cargo de uma ordem religiosa acaba de reconhecer que nosso estilo de vida não é atrativo para muitos jovens. É claro, porém, que qual­ quer jovem inteligente compreende que constatações deste gênero não são publicáveis no material de propaganda do instituto. Toda propaganda deverá ser dis­creta, mas nunca negativa.
Então perguntará o leitor e a leitora impaciente: "Como atrair boas vocações sacerdotais e religiosas?". A resposta é bem conhecida: vivendo com coerência e alegria a própria vocação diante da juven­tude. Tratando estes jovens e estas jovens com carinho, com prudência e com paci­ência, como disse a jovem adulta que me enviou o e-mail. Quem não estiver dis­posto ou disposta a "perder tempo", es­cutando os jovens, poderá publicar livros de pastoral vocacional, participar de con­gressos vocacionais e distribuir santinhos do fundador ou fundadora da congregação, mas dificilmente cativará o coração de jo­vens em quem Deus semeou a boa se­ mente da vocação.
Luís González-Quevedo Religioso Jesuíta e sacerdote

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