quinta-feira, 13 de agosto de 2009

VOCAÇÃO CRISTÃ E VOCAÇÕES ESPECÍFICAS NA IGREJA: PARTE III

A graça batismal se desdobra em vários outros dons, carismas e missões que o Espírito Santo livremente distribui entre os fiéis. O próprio apóstolo Paulo afirma que cada um recebe um dom do Espírito, para a edificação da Igreja, corpo do Cristo (1Cor 12,4-11). Vários membros, com funções diferentes, formam este corpo (1Cor 12,12-21). A diversidade dos dons não cria divisões na comunidade de fé, antes favorece a comunhão e o serviço fraterno. Todos unidos manifestam a incomparável riqueza e sabedoria de Deus. Portanto, a vocação humana e, sobretudo, a vocação cristã são concretamente vividas nas diversas vocações específicas, entre as quais destacamos as seguintes: vida leiga, vida matrimonial, ministério sacerdotal, consagração religiosa e trabalho missionário.
O leigo é todo batizado que não recebe o sacramento da Ordem nem professa votos públicos em um instituto religioso. Muitos pensavam que o leigo não tinha nenhuma vocação específica na Igreja. Desde o Concílio Vaticano II, esta mentalidade mudou, pois hoje reconhecemos que o cristão batizado é chamado a ser a “luz do mundo” e o “sal da terra”, conforme as palavras de Jesus (Mt 5,13-16). Deve levar os valores do Evangelho a todos os setores da vida familiar, social, política e cultural. Vive seu batismo permanecendo inserido na realidade presente e, assim, consegue reorientar todas as coisas para Deus. Neste sentido, podemos dizer que a vocação leiga é o pressuposto para o desenvolvimento de todas as outras vocações. Como assumir outras missões na Igreja e na sociedade se antes não vivemos com seriedade nossas promessas batismais? Alguns leigos não se casam, a fim de dedicar toda sua vida ao trabalho de evangelização. Algumas vezes, participam das chamadas comunidades de vida ou comunidades de aliança, procurando viver a espiritualidade própria de alguma pastoral ou movimento da Igreja, tais como Renovação Carismática Católica, Opus Dei, Focolarinos, Comunhão e Libertação, Caminho Neo-Catecumenal, entre outros. Estes recentes movimentos leigos surgem como novos carismas do Espírito Santo – um novo Pentecostes, como dizia o papa João Paulo II – e vêm enriquecer outras formas já tradicionais de os leigos viverem sua espiritualidade batismal nas chamadas Ordens Terceiras Franciscana e Carmelita, entre os Oblatos Beneditinos ou no Apostolado da Oração. Portanto, uma mesma consagração batismal é vivida de maneiras diversas dentro da rica tradição espiritual da Igreja. Entretanto, a grande maioria dos leigos, mesmo participando de algum desses movimentos ou comunidades eclesiais, vivem seu batismo assumindo os compromissos próprios da vida matrimonial e familiar.

Na verdade, também o matrimônio é uma vocação específica na Igreja. Ao ser interpelado sobre o sentido da união matrimonial, Jesus recorda o plano original de Deus, segundo o qual o homem e a mulher devem se unir um ao outro no amor recíproco e na fidelidade. Esta comunhão de vida, abençoada por Deus, é tão profunda que não pode ser desfeita por nenhuma outra realidade ou autoridade humana: “Ninguém separe o que Deus uniu” (Mc 10,2-9). Desta forma, Jesus reveste o matrimônio da dignidade sacramental, ou seja, transforma a união conjugal em sinal que manifesta e comunica aos cônjuges a graça de Deus. Fiel ao ensinamento de Jesus, São Paulo afirma que o amor entre esposo e esposa representa o amor do próprio Cristo por sua Igreja (Ef 5,21-32). Portanto, como Cristo entregou-se por sua Igreja, também o casal cristão deve viver a doação recíproca, cada qual buscando o bem do outro. Como afirma Jesus, “quem perde sua vida, vai encontrá-la”, isto é, cada um dos cônjuges só encontra a própria felicidade ao esquecer-se de si mesmo, para fazer o outro feliz (Mt 16,25). Esta entrega mútua se abre para o dom da vida. Apenas Deus pode criar uma nova vida, mas o casal participa deste poder criador de Deus. Assim, a vocação matrimonial está intimamente ligada à paternidade e à maternidade, e o sacramento do matrimônio torna-se o fundamento da vida familiar. A família deve ser respeitada em sua dignidade, como verdadeira “Igreja doméstica”, onde fazemos a primeira experiência dos valores evangélicos. É na família que aprendemos a viver a comunhão, a partilha, o perdão, a humildade, a sinceridade, a justiça, enfim o amor a Deus e ao próximo. A vida familiar é como a sementeira onde brotam as demais vocações para o serviço da Igreja.
Dom Cláudio da Silva Corrêa, OSB
Mosteiro de São Bento, São Paulo

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