segunda-feira, 26 de outubro de 2009

CARDEAL DESTACA IMPORTÂNCIA DO SILÊNCIO NA LITURGIA

Dom Eugenio de Araujo Sales
Cardeal Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro

''Se me perguntassem onde começa a vida litúrgica, eu responderia: com o aprendizado do silêncio''

Vivemos em uma civilização profundamente marcada pelo ruído. Há um vozerio por toda parte. A técnica moderna, com extraordinária rapidez, cria instrumentos que enchem os ouvidos e também os olhos com tudo o que ocorre aqui e no mais distante recôndito do mundo. Cada vez mais se torna difícil o silêncio interior e exterior. No entanto, ele é importante para nossa saúde física, mental e, especialmente, espiritual. Muitos sentem a necessidade de superar essa escravizante estrutura de nossa sociedade moderna. Buscam um ambiente de calma para unir-se a Deus ou mesmo para refletir sobre sua vida e os problemas cotidianos. Na parte religiosa, a Igreja deve preservar nos templos, de modo permanente, um clima de tranquilidade. São oásis mais valiosos hoje, quando a movimentação nas ruas e até nos lares é massificante. Durante o culto, os cânticos, leituras e aclamações, indispensáveis para fortificar uma convivência realmente comunitária, não excluem os momentos de meditação. Em um e outro caso, a Casa de Deus deve oferecer ao coração agitado a oportunidade de usufruir um intenso contato com o divino. Sem recolhimentos, frequentes e profundos, é impensável a sobrevivência e o progresso de uma vida cristã coerente e dinâmica, num mundo que frequentemente repele a mensagem decorrente do Evangelho. Santo Ambrósio, ao tratar desse assunto, em sua época (século IV) que poderíamos chamá-la de absolutamente silenciosa em comparação com os nossos dias, chega a afirmar: “O diabo busca o barulho, Cristo, o silêncio”. Assim, que dizer hoje do ruído nas cerimônias litúrgicas? Certamente, os elevados decibéis são um aferidor dos obstáculos do encontro do homem consigo mesmo e Deus. Recordo os falsos profetas que gritavam sem serem ouvidos e que Elias ironicamente estimulava: “Gritai com mais força (...) ele é deus, (...) mas certamente estará dormindo (...)” (1Rs 18,27). Do extremo de um imobilismo, fruto do individualismo passa-se para o outro igualmente condenável. Neste, a estridência dos sons de instrumentos que enervam não eleva a Deus o coração do fiel. E os promotores muitas vezes não são advertidos, pois se apresentam com o falso salvo-conduto de observantes das orientações conciliares. Não me refiro à Missa para jovens, mas simplesmente ao bom-senso. Evidentemente, um auditório composto de pessoas em idade juvenil terá um comportamento diverso do de outras faixas etárias. No entanto, mesmo assim, há limites. Em nossos dias, urge relembrar a importância de um ambiente que favoreça o contato com o divino nas cerimônias religiosas e lugares sagrados, não como fim, mas como meio válido de fecundo encontro com Deus ou manifestação de respeito à casa do Senhor.


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