O ser humano é dentre o reino animal, a criatura que nasce mais frágil, aquela que precisa de maior cuidado. A maioria dos filhotes nascem e algumas horas depois já andam, ou em tempo muito menor que o gênero humano, podem desepegar-se da mãe e cuidar de si mesmos.
Talvez por sermos na natureza os que desenvolvem maior inteligência, dependemos um maior tempo dos genitores. Quando nascemos, temos ainda, muito o que aprender sobre a vida.
E estas lições nos são passadas de forma distinta entre o pai – ser masculino, e a mãe – ser feminino. A visão de mundo de cada um é diferente, contudo toda criança, independente do sexo, precisará da presença do pai e da mãe.
Um artigo já trabalhado por mim em outro post, do Frei Raniero Cantalamessa – pregador oficial da Casa Pontificia – vai abordar como o amor do Senhor se manifesta através das diferentes formas de amor, contidas em nossos pais.
“Deus se expressa como amor paterno e materno.
O amor paterno é feito de estímulo e solicitude; o pai quer o filho crescido e levado à plena maturidade.
Já o amor materno é feito de acolhida e de ternura; é um amor visceral; parte das profundas fibras do ser da mãe, onde a criatura se formou, e ali enraíza toda a sua pessoa, fazendo-a ‘estremecer de compaixão’”, justifica Cantalamessa.”.
(confira o texto na integra: http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=281083).
Primeiramente , isso vem demonstrar os diferentes papéis desempenhados instintivamente pelo homem e pela mulher numa família e como cada um imprime traços diferentes no desenvolvimento e constituição da criança e do adolescente.
A ciência tem pesquisado e cada vez mais compreendido que, desde o tempo das cavernas, a mente, a visão de mundo, os sentimentos e reações ao ambiente, entre homens e mulheres, vem sendo desenvolvidas diferentemente. Porém, é essa forma individual de analisar e agir, que cada um dos sexos transmitirá ao filho(a).
O amor de pai é feito de solicitude e estímulo. O ser paterno quer ensinar as coisas ao filho(a), demonstrar como se faz, por vezes, desafia o rebento a um novo em sua vida.
Lá nos inícios, Deus disse ao homem: “Comerás o pão com o suor do teu rosto” (Gn 3, 19). Ou seja, deu ao ser masculino a vocação de prover o sustento, de trabalhar a natureza, modificá-la, empreender, ir em frente até alcançar a excelência – maturidade e plenitude dos meios. Então, se é dessa maneira que o homem entende a vida para si, isso será o conteúdo que ele terá a aprensentar a sua prole.
Geralmente é o pai quem ensina a criança a andar de bicicleta (segura para não cair, mas solta quando vê que o filho(a) já aprendeu, ainda que o(a) pequeno(a) não confie em si, mas ao ver que já pedalou sozinho alguns metros, aprende a confiar que seu pai o lançou na vida para seu próprio bem. A criança experencia o prazer de ser desafiado pelas ocasiões da existência e alcançar suas metas). Também é o pai que, na maioria da vezes, brinca pedindo que o filho pule de alguma altura para o segurar no colo. Dificilmente veremos uma mãe brincando assim!
Isso tudo vai registrando na cabecinha da criança; “Você é capaz”, “Eu acredito em você”, “Existe alguém junto com você, alguém que te olha, mesmo quando você se sente sozinho no desafio”.
Na adolescência também, geralmente é o ser masculino quem ensina um ofício. Jesus aprendeu a ser carpinteiro com seu pai José. Foi observando seu pai que Ele teve contato com as primeiras noções de como buscar o sustento, de como as coisas funcionam, a dinâmica da natureza, dos processos naturais, pois daí se extrai a providência. Posteriormente, na sua vida pública, Jesus usou em seus discursos o comparativo do Reino de Deus com fatores da agricultura da cidade de Nazaré, foi buscar nos trabalhos propriamente masculinos na cultura local e da época, exemplos para Sua mensagem de Boa Nova. (cf. Mt 6, 26; Mc 4, 32; Lc 8, 5; Lc 13,19).
A mãe por sua vez, traz a caracteristica do amor visceral, feito de acolhida e ternura, tudo é compaixão. Por vezes é um amor que quer reter para si a criatura de suas entranhas. A sensação de geração e proteção, o vínculo físico, com aquele que lhe veio de dentro do organismo, de alguma forma continua ao longo da vida.
À mulher Deus disse: “Entre dores darás à luz os filhos. Teus desejos te arrastarão para teu marido” (Gn 3, 16). O senso feminino de amor, deseja trazer para perto, para junto, quer unir toda família em torno dela. Lhe custa dores, sacrifícios interiores, daí então o zelo em manter e principalmente proteger.
Quando um filho(a) se machuca, para quem ele corre? Geralmente para a mãe. Quando sofremos e precisamos de um acalento, de colo, de mão na cabeça, palavras de carinho, para quem nos dirigimos? Geralmente para o colo de mãe. Desde pequenos, se algo acontece e sabemos que estamos errados ou mesmo quando estamos inocentes no acontecido, havendo o receio de que não vão nos entender, preferimos dizer primeiro para a mãe, contando que ela dará um jeito de aplacar a reação do pai ou dos demais.
Nisso, vai significando ao filho(a) que; “Você pode contar com minha acolhida”, “Existe um lugar que você pode admitir suas fraquezas, seus fracassos e até mesmo seus erros, que encontrará colo, carinho e compreensão”, “Não tenha medo, eu estou aqui”.
Jesus também usou em Suas falas, exemplos para o Reino dos Céus que eram típicos dos trabalhos femininos na cultura local de Nazaré: (cf. Lc 15, 8; Mt 13, 33), demonstrando que além do exemplo de seu Pai José, Ele aprendeu também muitas coisas com Sua mãe Maria. Estava junto com ela, observando-a e absorvendo o conhecimento que Lhe serviu para a vida.
Além das pessoas adultas trazerem consigo as impressões registradas pelos seus pais desde a infância, esta será a base que eles terão também para formar sua própria família futuramente. Da forma como vemos, ouvimos e sentimos nossos pais, muito provavelmente faremos com nossos filhos. Os homens aprendem a serem pais com seus respectivos pais. As mulheres a serem mães com suas respectivas mães.
A psicóloga Solange Rosset publicou um artigo em que vem confirmar a importância nos diversos papéis entre homem e mulher na vida familiar no artigo: “Casal que define bem os papéis na relação cria filhos mais equilibrados” e ainda vai além, relatando possíveis consequências negativas quando este equilibrio não acontece. “Quando as fronteiras dentro do casal não são bem definidas, é possível que um filho venha a desempenhar uma função que não deveria ser sua, mas do pai ou da mãe. Isso perturba o desenvolvimento da criança”. ( Revista Caras, edição 916, ano 18, nº 21 – 27/05/2011, cf. http://www.caras.com.br/edicoes/916/textos/casal-que-define-bem-os-papeis-na-relacao-cria-filhos-mais-equilibrados/)
Quando vão crescendo, os filhos podem tomar as dores e preencher lacunas, desempenhar papéis que seriam próprios do pai ou da mãe. Isso, além de atrapalhar o desenvolvimento da criança e do adolescente, por falta de exemplo e de referência, ainda dificulta a estruturação do lar, já que lança os rebentos em tarefas em que não estão ainda preparados e maduros.
Se numa casa o masculino oprime o feminino, assim entenderão as crianças, e é quase certo que assim serão os meninos desse lar no futuro. As meninas propensas a serem somente eternas serviçais dos seus futuros maridos, conformando-se, mas infelizes. Ou então, irão se rebelar e lutar com todas as forças contra esse tipo de tratamento, porém da forma errada, já que estavam, desde cedo, lutando pelo papel que é da mãe e não seu próprio. Faltará a referência feminina da mãe que foi anulada.
Se um pai não gosta de trabalhar, adultera ou cultiva vicios, ou o filho lhe seguirá o exemplo ou entrará em “pé de guerra” contra seu pai.
É importante lembrar que tanto o menino quanto a menina precisam do amor de ambos – do pai e da mãe.
O menino, por mais que se identifique com a mãe, buscará espelhar-se no pai. É a referência masculina, em que ele aprenderá a ser homem.
A menina, por mais que se identifique com o pai ou não, buscará espelhar-se na mãe. É a referência feminina, em que ela aprenderá a ser mulher.
O pai, por sua vez, é quem dará a noção do mundo, do externo.
A mãe, dará a noção de interioridade, de sentimentos, da casa interior do coração.
Se não há essa devida equação nos tornamos homens e mulheres inacabados. Seres em que falta desenvolver alguma parte de si. Nascemos com o dom, a vocação, a capacidade e a força para ser, mas a ausência de indicadores na vida não nos permitem avançarmos e chegarmos à plenitude.
As mensagens que os pequenos gestos registrados pelo pai e pela mãe na infância e adolescência e que ficam em nossa mente, serão excenciais quando não os tivermos por perto. Continuaram ecoando e produzindo efeito no animo da pessoa. (“Você é capaz”, “Eu acredito em você”, “Existe alguém junto com você, alguém que te olha, mesmo quando você se sente sozinho no desafio” – “Você pode contar com minha acolhida”, “Existe um lugar que você pode admitir suas fraquezas, seus fracassos e até mesmo seus erros, que encontrará colo, carinho e compreensão”, “Não tenha medo, eu estou aqui”)
Muitos dos sofrimentos, dos medos, as paralisias diante do novo, o sentimento de estar sozinho que trazemos em nossa vida, podem estar relacionados com a impressão de ausência daquilo que nos faltou em nossos primeiros anos.
Não aprendemos ser lançados nos desafios que a vida impôs, pois, ninguém fez isso conosco, não nos foi ensinado um trabalho, não aprendemos com a natureza os processos de demora e alcance de maturidade. Talvez não tenhamos tido um colo para chorar e hoje não nos sentimos no direito de mostrar fraquezas, sermos nós mesmos verdadeiramente, talvez não confiamos nas pessoas, porque nunca alguém se mostrou interessado nas machucaduras que trazemos e tivemos que sofrer a dor mesmo sem remédio.
Quando percebemos os desacordos e descaso entre nossos pais, tentamos arrumar o que era imperfeito, mas isso só trouxe a sensação de nossa impotência, pois continua do mesmo jeito. Quem sabe até nos causando aversão ao casamento ou a certas obrigações que ele traz. Também podemos ter feitos votos intimos, compromissos interiores que atingiram nosso inconsciente e que podem atrapalhar nossa história futura com alguém totalmente diferente do mal exemplo que tivemos.
E como reparar tudo isso?
Tomando consciência dos papéis distintos entre o homem e a mulher num lar, já podemos mergulhar em nossa história de vida e analisar se algo nos faltou. Rastrear os reconditos mais escondidos do nosso ser e enxergar se os sofrimentos do presente podem ter a raiz na infância ou adolescência por uma falha da referência do amor de pai ou de mãe.
Também com essa clareza, direcionar o futuro. Qual o meu papel? Como quero ser, como estou sendo?
E depois, também pela ciência – conhecimento do hoje – juntamente com a força do Espírito Santo, acreditar que é possível dar o que não recebemos de nenhuma criatura humana, ensinar o que não aprendemos de ninguém. Pois, o espírito Santo pode nos nutrir e fazer novas todas as coisas.
“Oh! Todos que estais com sede, vinde buscar água! Quem não tem dinheiro, venha também! Comprar para comer, vinde, comprar sem dinheiro vinho e mel, sem pagar!” (Is 55, 1)
Este versículo trata na verdade, não do alimento, no sentido literal, mas de que Deus quer subsidiar a alma daqueles que não tem mérito, dos que não aprenderam, aqueles que nunca receberam tudo o que viria a ser suas necessidades.
Somente uma experiência de amor com Jesus Cristo, no poder do Espírito Santo é que pode colocar algo bom onde ficou uma lacuna, um espaço vazio. Não há mal que Ele não possa vir a reparar.
Mesmo sem recursos chegue perto de Jesus e Ele que é o Amor, Ele que te amou desde sempre, lhe ensinará a amar seus filhos, seu pai e sua mãe, da forma como eles também precisam e talvez nunca foram amados e nunca aprenderam.
Recomendo aqui um outro artigo: “Conseguirei dar o amor que nunca recebi?” (http://blog.cancaonova.com/sandro/2011/05/11/conseguirei-dar-o-amor-que-nunca-recebi/)
Volte para sua família. Olhe para seu pai ou sua mãe com misericórdia. Na maioria das vezes, eles também foram mais vitimas do que culpados, pois também lhes foi negado uma face do amor paterno ou materno.
Mesmo que eles já não estejam em nosso meio, entre em seu coração e lembre das coisas boas que eles lhe fizeram, do cuidado, à forma deles, mais ainda assim cuidado. Entregue tudo diante de Jesus Eucaristico.
E levante-se para o novo, que agora tendo tomado consciência, você, agindo com a graça de Deus, pode fazer com que o mal sofrido, qualquer tendência a vício ou maldição, sejam interrompidos em você, em sua geração.
Onde houver o desejo de acertar já há amor. E é isso que sua família precisa.
Deus abençoe você e os seus!
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