terça-feira, 11 de agosto de 2009

VOCAÇÃO CRISTÃ E VOCAÇÕES ESPECÍFICAS NA IGREJA : PARTE I

A palavra vocação origina-se dos termos latinos vocare e vocatio, que significam, respectivamente, chamar e chamado. No sentido bíblico, a vocação é o chamado que o próprio Deus dirige pessoalmente a alguém, concedendo-lhe o dom da vida e confiando-lhe alguma missão específica, cujos frutos beneficiarão também outras pessoas. Assim, o primeiro chamado divino encontra-se no livro do Gênesis, na narrativa da criação do mundo, quando Deus cria a pessoa humana à sua própria imagem e semelhança (Gn 1,26). Deus não apenas nos concede o dom da existência, mas chama-nos a mais profunda comunhão consigo mesmo. Ao nos criar, Deus estabelece conosco um diálogo pessoal e nos revela o mistério de seu próprio ser e de sua vontade divina. Portanto, o sentido último da vida humana consiste em conhecer Deus com nossa inteligência, amá-lo com nossa vontade e servi-lo com os dons que recebemos de sua infinita bondade. Pensar na existência humana como vocação divina significa reconhecer a vida de cada pessoa como um dom do amor de Deus. Cada pessoa humana é chamada à existência por Deus, para permanecer sempre unida ao seu Criador e refletir algo da perfeição e beleza divina.
Esta perfeita comunhão com Deus só é possível quando ele próprio vem a nós, entra em nossa história e participa de nossa vida humana. Esta é a verdade central de nossa fé cristã, proclamada no Evangelho: “Deus amou tanto o mundo que enviou seu próprio Filho, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Em Jesus Cristo, abre-se para cada pessoa o caminho que lhe possibilita chegar à mais profunda união com Deus, vivendo, assim, a plenitude de sua vocação humana. Jesus mesmo é para nós “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Isto significa que seguindo Jesus Cristo pela vivência de sua palavra, que é para nós a plena verdade, beberemos na fonte mesma da vida: Deus. O mesmo Deus que nos chamou à existência, nos chama também ao seguimento de seu Filho. Este é o convite que ressoa nas próprias palavras de Jesus: “Segue-me” (Mc 1,17); “quem quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). Esta é nossa vocação cristã, que em nada contradiz nossa vocação humana. O dom da vida se aperfeiçoa na graça da vida eterna. A imagem divina que recebemos no princípio da criação alcança sua plenitude ao nos tornarmos semelhantes a Jesus Cristo, imagem perfeita do Pai. De criaturas amadas de Deus, somos elevados à condição de filhos de Deus, remidos por Cristo. Enfim, recordando uma afirmação dos primeiros autores cristãos, podemos dizer que o Filho eterno de Deus assumiu nossa condição humana, a fim de nos tornar participantes de sua condição divina.
Esta nossa identificação com Jesus Cristo é um processo que se inicia com a fé e o batismo. Pela fé aceitamos a pessoa de Jesus Cristo como nosso único salvador e acolhemos o dom de sua palavra redentora. Pelo batismo, sacramento da fé, morremos para o pecado e ressuscitamos para a vida nova dos filhos de Deus (Rm 6,3-4). Esta graça batismal nos é concedida pelo dom do Espírito Santo que, unindo-nos a Jesus Cristo, faz de nós novas criaturas. Este é o ensinamento de São Paulo, quando afirma: “A prova de sois filhos é que Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, pelo qual clamamos Abba, Pai” (Rm 8,14-15; Gl 4,4-7). Isto significa que nossa vocação cristã lança suas raízes em nossa consagração batismal. Toda a vida cristã consiste na vivência da graça de Deus recebida no batismo. A filiação divina é a condição comum de todo batizado, é a dignidade única da qual participam todos os cristãos, independentemente de sua condição social, de sua tradição cultural, ou mesmo das vocações específicas que vivem na Igreja e na sociedade.
Dom Cláudio da Silva Corrêa, OSB
Mosteiro de São Bento, São Paulo

2 comentários:

  1. olá amigos gostei muito do trabalho de vcs.Parabéns.Já trabalhei na pastoral vocacional de nossa diocese,foi muito proveitoso,com a Graça de Deus.Um abraço a todos.Padre Arnoldo de Alfenas.Mg

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