domingo, 28 de fevereiro de 2010

A beleza da moral católica

A moral católica tem como objetivo levar o cristão à realização da sua vocação suprema que é a santidade. Ela tem como objetivo dirigir o comportamento do homem para o seu Fim Supremo que é Deus, que se revelou ao homem de modo especial em Jesus Cristo e sua Igreja.

A Moral vai além do Direito que se baseia em leis humanas; mas nem sempre perscruta a consciência. Pode acontecer de alguém estar agindo de acordo com o Direito, mas não de acordo com a consciência. Nem tudo que é legal é moral.

A Moral cristã leva em conta que o pecado enfraqueceu a natureza humana e que ela precisa da graça de Deus para se libertar de suas tendências desregradas e viver de acordo com a vontade de Deus.

Portanto, a Moral cristã e a Religião estão intimamente ligadas, tendo como referência Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Ser cristão é viver em comunhão com Cristo, vivendo Nele, por Ele e para Ele. É de dentro do coração do cristão que nasce a vontade de viver a “Lei de Cristo”, a Moral cristã, e isto é obra do Espírito Santo. Não é um peso, é uma libertação.

O comportamento do cristão é uma resposta ao amor de Deus. Dizia S. João da Cruz que “amor só se paga com amor”.

“Deus é amor” (1Jo 4, 16) e Ele “nos amou primeiro” (1Jo 4, 19).

Ninguém deve viver a Lei de Cristo, por medo, mas por amor ao Senhor que desceu do céu, e imolou-se por cada um de nós. Nosso amor a Deus não deve ser o amor do escravo que lhe obedece por medo do castigo, e nem do mercenário que o obedece por amor ao dinheiro, mas sim o amor do filho que obedece ao pai simplesmente porque é amado por ele.

São Paulo dizia: “O amor de Cristo me constrange” (2Cor 5,14).

Ninguém será verdadeiramente espiritual enquanto não viver a lei de Deus simplesmente por amor a Deus e não por medo de castigos.

Por outro lado, devemos viver a lei de Deus porque ela é, de fato, o caminho para a nossa verdadeira felicidade. Ele nos ama e é Deus; não erra e não pode nos enganar; logo, sua Lei, é o melhor para nós.

Quem não obedece ao catálogo do projetista de uma máquina, acaba estragando-a; assim, quem não obedece a Lei de Deus, acaba destruindo a sua maior obra que é a pessoa humana.

A Lei de Cristo se resume em “amar a Deus e amar ao próximo como a si mesmo” (cf. Mt 22, 37-40). Mas esse amor ao próximo não é apenas por uma questão de simpatia ou afinidade com ele, mas pelo exemplo de Cristo, que “nos amou quando ainda éramos pecadores”, como disse S. Paulo. Por isso, o cristão odeia o pecado mas sempre ama o pecador. A Igreja ensina que não se deve impor a verdade sem caridade, mas também não se deve sacrificar a verdade em nome da caridade.

Deus sempre exigiu do povo escolhido, consagrado a Iahweh (Dt 7,6; 14,2.21), a observância das Suas Leis, para que este povo fosse sempre feliz e abençoado.

“Observareis os mandamentos de Iahweh vosso Deus tais como vo-los prescrevo” (Dt 4,2).

“Iahweh é o único Deus... Observa os seus estatutos e seus mandamentos que eu hoje te ordeno, para que tudo corra bem a ti e aos teus filhos depois de ti, para que prolongues teus dias sobre a terra que Iahweh teu Deus te dará, para todo o sempre” (Dt 14,40).

Deus tem um grande ciúme do seu povo, e não aceita que este deixe de cumprir suas Leis para adorar os deuses pagãos.

“Eu, Iahweh teu Deus, sou um Deus ciumento...” (Dt 5,9).

O Apóstolo São Tiago, lembra-nos esse ciúme de Deus por cada um de nós, ao dizer que:

“Sois amados até ao ciúme pelo Espírito que habita em vós” (Tg 4,5).

Deus não aceita ser o segundo na nossa vida, Ele exige ser o primeiro, porque para Ele cada um de nós é o primeiro.

Esse amor a Deus se manifesta exatamente na obediência aos mandamentos: “Andareis em todo o caminho que Iahweh vosso Deus vos ordenou, para que vivais, sendo felizes e prolongando os vossos dias na terra que ides conquistar” (Dt 5,33).

E as bençãos que Deus promete são abundantes:

“Se de fato obedecerdes aos mandamentos que hoje vos ordeno, amando a Iahweh vosso Deus e servindo-o com todo o vosso coração e com toda a vossa alma, darei chuva para a vossa terra no tempo certo: chuvas de outono e de primavera. Poderás assim recolher teu trigo, teu vinho novo e teu óleo; darei erva no campo para o teu rebanho, de modo que poderás comer e ficar saciado” (Dt 11.13-15; Lv 26; Dt 28).

Jesus disse aos Apóstolos: “Se me amais guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,23).

“Nem todo aquele que diz Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai ...“ (Mt 7,21) .

O nosso Papa Bento XVI tem falado do perigo da “ditadura do relativismo”. Na homilia que proferiu na missa que precedeu o início do Conclave que o elegeu, ele deixou claro as suas maiores preocupações:

“...que nos tornemos adultos em nossa fé. Não devemos permanecer crianças na fé, em estado de menoridade. Em que consiste sermos crianças na fé? Responde São Paulo: “Significa sermos arrastados para lá e para cá por qualquer vento doutrinário. Uma descrição muito atual!””

“Quantos ventos doutrinários experimentamos nesses últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantos modos de pensamentos... O pequeno barco do pensamento de muitos cristãos se viu freqüentemente agitado por essas ondas arremessado de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, e até mesmo a libertinagem; do coletivismo ao individualismo radical; do agnosticismo ao sincretismo, e muito mais. A cada dia nascem novas seitas, e as palavras de São Paulo sobre a possibilidade de que a astúcia nos homens, seja causa de erros são confirmadas.”

“Ter uma fé clara, de acordo com o Credo da Igreja, muitas vezes foi rotulado como fundamentalista. Enquanto que o relativismo, ou seja, o deixar-se levar «guiados por qualquer vento de doutrina», parece ser a única atitude que está na moda. Vai-se construindo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que só deixa como última medida o próprio eu e suas vontades. Nós temos outra medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. Ele é a medida do verdadeiro humanismo. «Adulta» não é uma fé que segue as ondas da moda e da última novidade; adulta e madura é uma fé profundamente arraigada na amizade com Cristo.”

O relativismo religioso é aquele em que cada um faz a “sua” própria doutrina moral, e não mais segue os Mandamentos dados por Deus. E quem não age segundo esta perversa ótica, é então menosprezado e chamado de retrógrado, obscurantista, etc.

Mas a Igreja nunca trairá o seu Senhor. Demos graças a Deus por este novo Pedro que Ele pos à frente do Seu Rebanho! Caminhemos com alegria e coragem, pois: “Ubi Petrus, ibi Ecclesia, ubi Ecclesia ibi Christus” – Onde está Pedro está a Igreja, onde está a Igreja está Jesus Cristo. (São Basílio Magno)

Viver a Moral católica é ser fiel a Jesus Cristo e a tudo o que Ele ensina através da sua Igreja.

Felipe Aquino

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Aos casais e namorados

Não é nada agradável ouvir que cometemos um engano nisso ou naquilo, especialmente de quem amamos; afinal, nosso próprio conceito é de ser alguém irrepreensível. No entanto, um bom relacionamento traz sinais de sucesso quando o casal se dispõe a viver a honestidade, sobretudo, de maneira respeitosa na franqueza dos diálogos. As atitudes defensivas ou a recusa de conversar sobre aquilo que o outro julga importante dizer em nada ajudará no crescimento dos laços entre os casais. Num convívio em que a comunicação entre as pessoas é pobre, os vínculos facilmente se enfraquecem e favorecem a desconfiança e a falta de respeito; atropelando, quase sempre, o direito e a integridade do outro.
Situações mal resolvidas apenas tornam nosso convívio frio. Antes mesmo que escoem pelos ralos os anos de amizade e comprometimento, a melhor atitude é falar sobre aquilo que parece não estar indo bem, a fim de encontrar uma saída, juntos, para uma situação que está tirando a paz no convívio.
Quando podemos contar com o interesse e a disposição do outro para nos ajudar a equacionar os impasses, a solução não parece ser tão impossível quanto parecia ser num primeiro instante.
Assim, juntos e com a boa vontade de quem quer nutrir o amor, conseguiremos nos moldar às necessidades do outro para o comum do novo estado de vida, para o qual somos impelidos a viver.
Um abraço!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Pureza já ouviu falar

Eu e você queremos ser amados. Jamais usados. Para isso, eu e você precisamos olhar o outro como ele é: uma p-e-s-s-o-a. Uma unidade inseparável de corpo e alma. Como conseguimos isso? Sendo puros!

Mas, falar de pureza hoje é dificilíssimo e por uma razão bem simples: as palavras no nosso vocabulário não significam a realidade que lhe corresponde e por isso precisamos explicar primeiro do que estamos falando.

Vou dar um exemplo: o que vem na sua mente quando você escuta a palavra “modéstia”?... E o que vem na sua mente quando você escuta a palavra “atrativa”?... Por acaso você relacionou a palavra “modéstia” à idéia de breguice, feiúra ou vulgaridade e a palavra “atrativa” à idéia de “fineza, beleza e elegância?” Bingo! Você está dopada(o) pela anti-cultura que nos rodeia. Desculpe-me pela palavra dopada(o), mas quem não reconhece estar dopada(o) espiritualmente, também não reconhece necessitar de uma nova medicina espiritual, isto é, uma nova visão do corpo e da sexualidade!

Esta nova visão é simplesmente a visão original, a visão que foi planejada desde sempre pelo Criador e que tanto o homem como a mulher receberam ao serem criados, dando-lhes a capacidade de estarem nus e não sentir vergonha (Gn. 2, 25). O perigo é fazer uma pobre interpretação deste versículo. A Palavra de Deus é infinitamente rica e por isso peço que você leia com toda a atenção o parágrafo abaixo no qual o Papa João Paulo o explica (nas suas catequeses a explicação é bem mais profunda, aqui coloco a versão resumidíssima).

“Nudez significa a bondade original da visão divina. Significa toda a simplicidade e plenitude da visão através da qual se manifesta o valor puro do homem como varão e mulher, o valor puro do corpo e do sexo.” Porque puro? Porque a “revelação original do corpo (contida em Gn 2, 25) não conhece ruptura interior nem contraposição entre o que é espiritual e o que é sensível, assim como não conhece ruptura nem contraposição entre o que humanamente constitui a pessoa e o que no homem é determinado pelo sexo: o que é masculino e o que é feminino”. (Audiência de João Paulo II, 2 de janeiro de 1980)

A pureza então é olhar como Deus olha: Ele olhou tudo o que fez e viu que tudo “era muito bom” (Gn 1, 31). Por isso, pureza e bondade no plano original de Deus são sinônimos. A pureza do coração é condição para sair da visão reducionista do corpo e da sexualidade e reconhecer que o “corpo humano nu – em toda a verdade da sua masculinidade e feminilidade- tem o significado do dom de uma pessoa para outra pessoa”. Justamente porque sofremos tantas deformações no nosso “olhar” (que reflete nosso interior!) é que velamos aquilo que no nosso corpo pode ser olhado como objeto de apropriação e possessão! Não “cobrimos” nossos corpos porque seja feio ou vergonhoso, mas justamente para proteger-nos de sermos tratados como objetos! Daí que a “vergonha” relatada no Livro de Genesis, após a caída do homem e da mulher, tem o significado de proteção por algo que o primeiro casal, mesmo após o pecado, reconhecem ainda como valioso: o seu corpo tem um significado esponsal, nele está impresso a chamado a sermos um dom sincero ao outro!

Por isso Karol Wojtyla afirma categoricamente: “só a mulher e o homem castos são capazes de amar verdadeiramente” (Amor e Responsabilidade, pg. 152). A pessoa que não é - e não busca ser – casta, sempre cairá na tentação (que todos nós sentimos após o pecado original) de “usar” a pessoa, e uma das maneiras mais comuns de “usar” a pessoa é separar o seu corpo da totalidade do seu ser.

Ainda impera a infeliz e equivocada idéia que a castidade conduz ao “desprezo e à desvalorização da vida sexual”! Mais ainda: dizem que a castidade faz mal! Simples e profunda é a explicação dada por K. Wojtyla: a castidade é uma virtude elevada, ergo, implica esforço. Mas com a minha vontade fraca eu não a alcanço, então... pelo menos para livrar-me do esforço, eu a desprezo subjetivamente (ele continua tendo o alto valor, mas eu finjo que não tem)! Resultado: criou-se a falsa argumentação que ela é nociva para o ser humano. Com trágicas conseqüências, pois “lhe foi recusado o direito de cidadania na alma humana”! (Cf. Amor e Responsabilidade, pg. 125)

Como solucionar? Seguindo o conselho se alguém que viveu a mesma era que você e eu, e hoje já é santo: “O “milagre” da pureza tem como pontos de apoio a oração e a mortificação.” (St. Escrivá).

E agora, qual a desculpa que vamos arranjar para não sermos puros?

Ave Maria puríssima, ora pro nobis!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Quaresma -Como viver bem esse tempo forte de meditação, oração, jejum, esmola?

Neste tempo especial de graças que é a Quaresma devemos aproveitar ao máximo para fazermos uma renovação espiritual em nossa vida. O Apóstolo São Paulo insistia: "Em nome de Cristo vos rogamos: reconciliai-vos com Deus!" (2 Cor 5, 20); "exortamo-vos a que não recebais a graça de Deus em vão. Pois ele diz: Eu te ouvi no tempo favorável e te ajudei no dia da salvação (Is 49,8). Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação." (2 Cor 6, 1-2).

Cristo jejuou e rezou durante quarenta dias (um longo tempo) antes de enfrentar as tentações do demônio no deserto e nos ensinou a vencê-lo pela oração e pelo jejum. Da mesma forma a Igreja quer ensinar-nos como vencer as tentações de hoje. Daí surgiu a Quaresma.

Na Quarta-Feira de Cinzas, quando ela começa, os sacerdotes colocam um pouquinho de cinzas sobre a cabeça dos fiéis na Missa. O sentido deste gesto é de lembrar que um dia a vida termina neste mundo, "voltamos ao pó" que as cinzas lembram. Por causa do pecado, Deus disse a Adão: "És pó, e ao pó tu hás de tornar". (Gênesis 2, 19)

Este sacramental da Igreja lembra-nos que estamos de passagem por este mundo, e que a vida de verdade, sem fim, começa depois da morte; e que, portanto, devemos viver em função disso. As cinzas humildemente nos lembram que após a morte prestaremos contas de todos os nossos atos, e de todas as graças que recebemos de Deus nesta vida, a começar da própria vida, do tempo, da saúde, dos bens, etc.

Esses quarenta dias, devem ser um tempo forte de meditação, oração, jejum, esmola ('remédios contra o pecado'). É tempo para se meditar profundamente a Bíblia, especialmente os Evangelhos, a vida dos Santos, viver um pouco de mortificação (cortar um doce, deixar a bebida, cigarro, passeios, churrascos, a TV, alguma diversão, etc.) com a intenção de fortalecer o espírito para que possa vencer as fraquezas da carne.

Na Oração da Missa de Cinzas a Igreja reza: "Concedei-nos ó Deus todo poderoso, iniciar com este dia de jejum o tempo da Quaresma para que a penitência nos fortaleça contra o espírito do Mal".

Sabemos como devemos viver, mas não temos força espiritual para isso. A mortificação fortalece o espírito. Não é a valorização do sacrifício por ele mesmo, e de maneira masoquista, mas pelo fruto de conversão e fortalecimento espiritual que ele traz; é um meio, não um fim.

Quaresma é um tempo de "rever a vida" e abandonar o pecado (orgulho, vaidade, arrogância, prepotência, ganância, pornografia, sexismo, gula, ira, inveja, preguiça, mentira, etc.). Enfim, viver o que Jesus recomendou: "Vigiai e orai, porque o espírito é forte mas a carne é fraca".

Embora este seja um tempo de oração e penitência mais profundas, não deve ser um tempo de tristeza, ao contrário, pois a alma fica mais leve e feliz. O prazer é satisfação do corpo, mas a alegria é a satisfação da alma.

Santo Agostinho dizia que "o pecador não suporta nem a si mesmo", e que "os teus pecados são a tua tristeza; deixa que a santidade seja a tua alegria". A verdadeira alegria brota no bojo da virtude, da graça; então, a Quaresma nos traz um tempo de paz, alegria e felicidade, porque chegamos mais perto de Deus.

Para isso podemos fazer uma confissão bem feita; o meio mais eficaz para se livrar do pecado. Jesus instituiu a confissão em sua primeira aparição aos discípulos, no mesmo domingo da Ressurreição (Jo 20,22) dizendo-lhes: "a quem vocês perdoarem os pecados, os pecados estarão perdoados". Não há graça maior do que ser perdoado por Deus, estar livre das misérias da alma e estar em paz com a consciência.

Jesus quis que nos confessemos com o sacerdote da Igreja, seu ministro, porque ele também é fraco e humano, e pode nos compreender, orientar e perdoar pela autoridade de Deus. Especialmente aqueles que há muito não se confessam, têm na Quaresma uma graça especial de Deus para se aproximar do confessor e entregar a Cristo nele representado, as suas misérias.

Uma prática muito salutar que a Igreja nos recomenda durante a Quaresma, uma vez por semana, é fazer o exercício da Via Sacra, na igreja, recordando e meditando a Paixão de Cristo e todo o seu sofrimento para nos salvar. Isto aumenta em nós o amor a Jesus e aos outros.

Não podemos esquecer também que a Santa Missa é a prática de piedade mais importante da fé católica, e que dela devemos participar, se possível, todos os dias da Quaresma. Na Missa estamos diante do Calvário, o mesmo e único Calvário. Sim, não é a repetição do Calvário, nem apenas a sua "lembrança", mas a sua "presentificação"; é a atualização do Sacrifício único de Jesus. A Igreja nos lembra que todas as vezes que participamos bem da Missa, "torna-se presente a nossa redenção".

Assim podemos viver bem a Quaresma e participar bem da Páscoa do Senhor, enriquecendo a nossa alma com as suas graças extraordinárias; podendo ser melhor e viver melhor.

Professor:Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com
Prof. Felipe Aquino, casado, 5 filhos, doutor em Física pela UNESP. É membro do Conselho Diretor da Fundação João Paulo II. Participa de Aprofundamentos no país e no exterior, já escreveu 60 livros e apresenta dois programas semanais na TV Canção Nova: "Escola da Fé" e "Trocando Idéias". Saiba mais em Blog do Professor Felipe
Site do autor: www.cleofas.com.br

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Onde é que você gasta o seu tempo?

Onde é que você gasta o seu tempo? O que é essencial ou acidental em você? Onde é que você derrama a sua vida?

Amar é doer o tempo todo. Você ama um filho e sabe que ele precisa ir para a escola, mesmo que ele fique lá gritando e você saia chorando, porque ele precisa se desprender de você. Na minha infância, eu fazia xixi na calças na escola só para ir para casa ficar com minha mãe. Até que no quarto dia a professora disse que tinha providenciado uma cuequinha. Ali foi o momento em que eu aprendi a perder.

Você mãe tem dor de parto para trazer seu filho ao mundo. Mas você vai "parturir" esse menino o tempo todo. Mãe que não sabe perder, não sabe educar o filho. Digo tudo isso para falar da sarça ardente e da ordem de Jesus sobre a travessia rumo à nossa conversão.

Moisés reconhece a missão de levar o povo a passar pelo deserto. E vê uma sarça que queima sem se consumir. Mas ele tem consciência de aquele momento é acidental em sua vida. Deus poderia ter se manifestado de outra forma. Acidental é aquilo que poderia ser diferente, que não faz falta, que com a ausência a vida continuaria do mesmo jeito.

Voltamos à música. "Eu só peço a Deus que a dor não me seja indiferente, que a morte não me encontre um dia solitário sem ter feito o que eu queria".

A morte teria encontrado Moisés se ele pensasse que na sarça ele tinha visto tudo. Deus não nos entrega nada para que isso morra, mas para ser multiplicado. Qualquer experiência humana não termina ali, mas sempre tem um algo a mais.

Sarças podem arder tanto para encantar, como para desesperar, quando você viveu aquele momento de dor e disse que era demais, que não iria suportar. "Não vejo outra perspectiva, não vejo solução". Mas você fez um desafio a si mesmo e não ficou parado com a sarça.

A vida, às vezes, nos faz parar para ver a sua beleza, mas também a sua tragédia. E nada pode nos parar. É a junção do calvário e sepulcro vazio que dão sentido à nossa vida. O que vai fazer a diferença é o modo como você encara o momento que vive.

A vida é inteligente o tempo todo. A morte é um processo natural de dar lugar ao outro. Está certo que a gente ama, mas você não pode ficar parado. Não pare naquele momento, porque o definitivo é destrutivo sempre. O definitivo chama-se inferno e quem cai no definitivo corre o risco da arrogância. Amor sobrevive daquilo que não sabemos do outro, mas desconfiamos, estamos descobrindo a cada dia.

"Essa festa está tão boa que eu não queria que acabasse". Mentira! Já está na hora de ir embora. O resto da vida é tempo demais. O pôr do sol só é bonito porque está acabando. Se não fosse passageiro não iríamos prestar atenção nele, pois estaria ali toda hora.

Deus nos indica um caminho a percorrer. O que Jesus nos fala é: "Corra atrás do que está em você. Dentro de você há tantos lugares para chegar, tanto pôr do sol. No lugar da trovoada também ter pôr do sol". Você não nasceu para o definitivo das tragédias.

Religião é antes de qualquer coisa a mistura do sagrado e divino em nós. Conheça o que você é, porque assim você saberá trabalhar melhor com você mesmo. Nós queremos conhecer o outro, mas não queremos conhecer a nós mesmos. É luta o tempo todo. Você vai ver o que é atraente, mas também os seus espinhos. E fazer a experiência de caminhar no deserto e ir além.

E se Jesus perguntar quem é você? O que você tem feito da sua vida? O que você tem permitido que os outros façam da sua vida? O que na sua vida é essencial? Onde você gasta os seus dias, as suas horas?

A gente está lidando o tempo todo com "abelhas" que nos rondam o tempo todo para extrair alguma coisa de nós. O que sai? Mel ou fel? É muito fácil produzir mel quando tudo está favorável a nós. Mas o desafio está em dar testemunho da nossa fé quando tudo está desarrumado e proclamá-la para aquele que nos fez "descer da árvore".

Você quer ser feliz, acertar, mas corre o risco de chegar lá e dar conta de que não deu certo. Só chega lá quem toma a disciplina de não desistir.

O que você gostaria de fazer? O que você gostaria de sonhar diferente? Se hoje você morresse, quais sonhos morreriam junto com você?

Só sobrevive no deserto quem se planeja para fazer uma travessia segura. A coisa mais fácil é perder o rumo da vida, gente. Basta uma luz no foco errado. Cuidado com tudo aquilo que brilha demais, que é muito artificial.

Nunca vi um rapaz chorando porque não ganhou o iate que queria. Mas já vi muitos rapazes chorando sem terem coragem de contar que queriam se sentir amados. A falta de amor faz chorar, destrói. Amor é essencial. E muitas vezes nos prendemos para dar aos filhos o que é acidental.

Nós só conseguimos suportar a travessia do deserto se estivermos agrupados. Ninguém chega ao céu ou ao inferno sozinho. Sempre estamos agrupados.

Essa música é diferente da outra e nos dá esperança: "Eu preciso de Ti, meu Senhor. Quero caminhar contigo e não mais andar sozinho. Eu preciso de Ti".

Se quiser ir longe segure nas mãos desse Deus, que se oferece na Eucaristia.

Padre Fábio de Melo

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

40 dias de reflexão

Em um mundo dessacralizado, distante da prática religiosa, percebe-se a influência dos tempos litúrgicos. Embora deformados, o Natal, a Páscoa e outras festividades têm ressonância no ambiente humano. Ainda que seja débil sua repercussão na consciência dos indivíduos, devem ser utilizadas em favor dos objetivos de evangelização, que é levar aos homens a Mensagem de Cristo.
As semanas que antecedem as comemorações da Morte e Ressurreição do Salvador, denominadas “tempo quaresmal”, nos proporcionam ricos ensinamentos, farta e bela semeadura, capaz de, uma vez aproveitada, produzir abundantes frutos espirituais.
Recordam outra “quaresma”, os quarenta dias de Jesus no deserto, preparando-se para sua missão salvífica. Ensina-nos o evangelista Marcos (1, 12-13): “E logo o Espírito o impeliu para o deserto. E ele esteve no deserto quarenta dias, sendo tentado por Satanás e vivia entre as feras e os anjos o serviam”. E Lucas (4, 1-13) completa a descrição mostrando a vitória de Jesus sobre as tentações. Esse fato é revivido pela Igreja a cada ano e isso ocorre, entre outros motivos, pela sua própria natureza. Diz o Vaticano II em “Lumen Gentium” nº8: “A Igreja, reunindo em seu próprio seio os pecadores, ao mesmo tempo santa e sempre na necessidade de purificar-se, busca sem cessar a penitência e a renovação”. Queremos uma Igreja sem mancha nem rugas, embora composta de homens. Isso somente será possível através de uma verdadeira conversão. Exatamente é este o alvo do tempo litúrgico da quaresma.
São seis semanas de preparação para a Páscoa. Ela une profundamente cristãos e judeus. A mesma Sagrada Escritura serve de elemento constitutivo para uns e outros. A diferença é que nós celebramos o que já aconteceu – a vinda do Messias esperado – e vivemos na esperança da vida definitiva no paraíso; os israelitas, na expectativa do Salvador prometido ou o Reino de Deus.
Uma eficaz e condigna celebração da Páscoa se obtém, sobretudo, pela lembrança das exigências do Batismo, a frequência em ouvir a Palavra de Deus, a oração, o jejum e a esmola. A penitência é uma característica desta época. Lamentavelmente, hoje em dia, os cristãos, arrefecidos em sua Fé, esquecem-se desses compromissos.
O Concílio Ecumênico, na Constituição “Sacrosanctum Concilium”, adverte: “A penitência no tempo quaresmal não seja somente interna e individual, mas também externa e social” (nº110). São recomendados também “os exercícios espirituais, as liturgias penitenciais, as peregrinações em sinal de penitência, as privações voluntárias, como o jejum e a esmola, a partilha fraterna (obras caritativas e missionárias)” (Catecismo da Igreja Católica, nº1438).
Esse quadro nos indica o caminho da perfeição, que passa pela Cruz. E lembra o dever da santidade, que, para ser cumprido, exige o esforço. Em consequência, a ascese e a mortificação, fazem parte do plano de Deus a respeito de seus filhos.
O quinto mandamento da Igreja prescreve o jejum e a abstinência. Eles são um meio de dominar os instintos e adquirir a liberdade de coração. Estão presentes também no Código de Direito Canônico (cc 1249 a 1253). O primeiro começa: “Todos os fiéis, cada qual a seu modo, estão obrigados pela lei divina a fazer penitência”. E no seguinte: “Os dias e tempos penitenciais em toda a Igreja são todas as sextas-feiras do ano e o tempo da Quaresma”. No Brasil, a abstinência das sextas-feiras – exceto na Semana Santa – pode ser comutada por “outras formas de penitência, principalmente obras de caridade e exercícios de piedade”.
Este período do ano litúrgico coloca diante de nossos olhos, como imperativo da vida cristã, a conversão – através da penitência. Ora, nós respiramos uma atmosfera visceralmente contrária. Tudo em torno de nós sugere o prazer sem limites, isento de compromisso, um comportamento à margem das exigências oriundas das determinações do Evangelho. Essa maneira de ser penetrou os umbrais sagrados. Assim, pouco se fala do pecado, dos deveres que são substituídos por direitos sem barreiras, de um Cristo despojado de seus ensinamentos, que constrangem a sede ilimitada de liberdade sem peias.
Esta época litúrgica tem muita semelhança com o apelo dos profetas à conversão, e esta, a partir do coração. Tanto é assim que usamos os textos do Antigo Testamento na escuta da Palavra de Deus, dirigida a cada um dos fiéis em nossos dias.
O apelo de Pedro deve repercutir em nossos ouvidos: “Salvai-vos, dizia ele, dessa geração perversa” (Atos 2,40). Vivemos no mundo, mas sem seguir suas orientações. O cristão será sempre alguém que “rema contra a corrente”. Quando encontramos um pregador ou um agente pastoral que teme ensinar a mesma Doutrina de Jesus Cristo ou prefere amenizá-la para não afastar os fiéis, sabemos que não são verdadeiros pastores.
A Quaresma é um tempo propício à reflexão cristã, a uma conversão do coração, a uma prática de penitência, tão distanciada de uma mentalidade moderna à margem do Evangelho, mas que penetrou até nas fileiras dos seguidores de Cristo.
Vivendo os ensinamentos da Igreja neste tempo litúrgico, nos dispomos a receber as graças da Páscoa da Ressurreição.

Dom Eugênio Sales
Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Fazer o caminho

O tempo real nos coloca no contexto de uma via, de um caminho, tendo um ponto de partida e outro de chegada. É tempo de alegrias e tristezas, de hostilidades e rejeição, ou não. Importa caminhar com muita coragem, não se deixando abater pelos desânimos que vão sendo encontrados.
Pelo caminho, as deficiências vão sendo aos poucos curadas, os sonhos, às vezes, sendo realizados. Importa não ficar estagnado por causa dos problemas, dos preconceitos e situações impostas pelo novo contexto cultural. Não podemos perder as nossas forças e princípios motivadores.
Não é fácil acreditar no potencial existente em cada pessoa humana. Pior ainda é aceitar os prodígios realizados pelos que são comuns a todos nós. Podemos aqui destacar a frase muito popular: “Santo de casa não faz milagre”. Mas isso não é verdade.
O certo é que toda pessoa humana existe para cumprir uma missão. É por isso que existem os dons, quase como um destino, uma configuração de responsabilidade, que abarca toda a existência concreta na história da humanidade.
É muito grande a força da existência. Ela coincide com a vontade do Criador, num tempo determinado, em vista da salvação e da libertação. Existimos para edificar um caminho florido pelas maravilhas de uma vida que precisa ser feliz.
A marca referencial é o amor fraterno na comunidade, ou no corpo social, construindo solidariedade e unidade. As competições, os interesses particulares, as preferências egoístas e os desejos de publicidade dificultam o verdadeiro caminho.
O bem comum é fruto de práticas concretas de amor. É amor que vem de Deus e existe em nós pelo fato de que Ele nos tornou Seus filhos adotivos. Amando os irmãos, amamos a Deus. Assim conseguimos construir uma humanidade sem barreiras.
O caminho depende de tempo, não de passado ou de futuro propriamente dito, mas do hoje, da vida real e concreta. É o testemunho na qualidade de vida do agora. É o jeito da pessoa ser, de viver, de celebrar e de agir no mundo com responsabilidade.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Bispo de São José do Rio Preto

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

No carnaval, quero ser outra pessoa

O carnaval se aproxima. Um feriado prolongado e famoso no Brasil. No exterior muitos, infelizmente, reconhecem nosso país apenas a partir do futebol e do carnaval, identificando-nos somente com o chavão: futebol e samba.
Por conta disso, muitos de nós acabamos acreditando que o carnaval é uma invenção brasileira e que se resume ao que realizamos nessa época no nosso país. Isso é um engano! Porque o carnaval não é criação moderna e brasileira. Trata-se de um evento antigo e que apresenta variações em diferentes épocas e povos, inclusive em utilidade.
Utilidade? Como assim?
Isso mesmo! A maior festa popular brasileira possui outras funções, diferentes do evento social como o conhecemos. Exemplo disso é a literatura que possui um recurso chamado "carnavalização". São várias as características que nos permitem identificá-la [carnavalização] num determinado texto.
Mas quero tratar de uma em especial, porque ela está bem ligada ao que, claramente, vemos nos dias de carnaval, e além disso, ao ser usada na literatura, ela diz muito das características e dos desejos humanos – trata-se da inversão através de polos opostos.
Esse recurso é simples e algo comum na literatura e seu princípio vem do que ocorre nesses dias carnavalescos: o pobre se veste de rei; o rico se veste de mendigo; o cidadão comum se veste de artista; o famoso quer se vestir de cidadão comum...
Segundo a teoria da literatura a carnavalização acontece por um desejo de ruptura da rotina cotidiana. Um desejo de ser, pelo menos por alguns instantes (ou por alguns dias – os dias dessa festa), algo diferente do que se é o ano inteiro. E esse desejo de mudança pode, sem dúvida, nos indicar um anseio de mudança mais profunda, inerente a qualquer ser humano em alguma fase da vida.
Quantas pessoas esperam ansiosamente esse período do ano para essa mudança. Muitos vivem em função dessa espera e passam o ano todo preparando suas fantasias. E se pensarmos bem, em maiores ou menores proporções, todos nós desejamos, em determinados momentos, alguma mudança na vida.
Que esse período de carnaval seja o que a nossa opção nos disser: ser formos a alguma festa, que nos divirtamos sadiamente; se formos para um retiro, que rezemos; se formos para um recanto, que descansemos... Mas que em qualquer desses ambientes façamos uma profunda reflexão. Aproveitemos porque estaremos, de um jeito ou de outro, rodeados dessa inversão e pensemos em quais situações buscamos essa carnavalização em nossa vida.
E a partir das conclusões que tirarmos não esperemos mais momentos passageiros, como o carnaval, para fugir da realidade. Mas que possamos nos propor a mudar verdadeiramente as estruturas da rotina. Que não usemos apenas fantasias. Que não desejemos ser outra pessoa durante escassos momentos. Mas que sejamos verdadeiramente pessoas novas.
Como fazer essa mudança? Como ser uma pessoa verdadeiramente nova? A receita quem nos indica é alguém que conhecia bem festas, como o carnaval, e também conhecia as teorias literárias de seu tempo – o apóstolo Paulo. É ele quem nos afirma:
Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo! (II Cor 5,17)
Denis Duarte

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A interferência na vida conjugal

Fala-se muito das interferências da sogra na vida conjugal, pois nem sempre as opiniões dela caem em boa hora ou são aceitas com naturalidade. Já ouvimos muitas vezes o ditado: “Em briga de marido e mulher ninguém põe a colher”. Se tal advertência é válida para todos os demais parentes, muito especialmente também o será para as sogras.
Há sogras de todos os tipos. Algumas agem como conhecedoras de todas as situações e, não contentes em apenas opinar, elas fazem mil e uma recomendações ao filho, criticam a educação dos netos como se fossem seus filhos. Outras chegam a intrometer-se no gosto da decoração da casa ou em outras coisas particulares do casal.
Grandes são as crises estabelecidas entre nora e sogra, especialmente quando esta [sogra] insiste em querer agir como mãe não somente do filho, mas ao querer fazer as vezes de mãe também da nora. Muitas acreditam que a melhor atitude diante de uma situação particular do casal é fazer aquilo que elas próprias orientam.
É evidente que a experiência de vida de nossas sogras é superior à nossa, mas, assim como a vida nos foi capacitando para superarmos os obstáculos, também na vida conjugal aprenderemos a resolver outras questões; agora assumidas e resolvidas entre marido e mulher.
O problema será maior quando a mãe do esposo perder a noção de que o “seu menino” cresceu, e sem respeitar o momento ou mesmo o lugar, der palpites esquecendo que o casal agora já constitui uma nova família; e que uma nova história será contada.
Entretanto, nem sempre a sogra é a grande vilã ou a “pedra no sapato” na vida da nora. Assim como pode acontecer de sogras perderem a noção de que o filho cresceu, há também filhos que não conseguem se desligar do cordão umbilical que os une às genitoras. Nesse caso, seja por uma dependência financeira, seja por mimos ou por falta de maturidade, o filho recorre ao “colo” da mãe diante de qualquer pequena dificuldade. E acostumado com os “amparos” da mamãe, isso, por sua vez, abre precedentes para que a sogra também dê seus palpites na vida do casal.
O fato de sermos casados não significa que devemos deixar de visitar a casa de nossos pais ou desconsiderar as opiniões deles. Contudo, não podemos fazer dessas visitas um pretexto para apresentar um relatório das experiências e das dificuldades da vida a dois. Caso contrário, o almoço e as festas, que deveriam ser momentos de confraternização, serão aproveitados para que os parentes se “alfinetem” ou transformem o encontro em ocasião para “lavarem a roupa suja", num território em que a nora poderá se sentir humilhada diante do assunto trazido em pauta.
É interessante a gente considerar que cada família estabelece suas próprias regras e normas, em comum acordo, entre os cônjuges. Uma vez detectado o possível problema, cabe ao casal aproveitar essa oportunidade para expor, entre si, a situação que não lhe agrada, no sentido de juntos se adequarem ao impasse. Se ele não consegue ainda se separar da mãe, mesmo depois de casado, talvez, seja um bom começo equilibrar o tempo de permanência na casa materna.
Por outro lado, a interferência da mãe do esposo na relação conjugal do filho, entre essas e outras situações citadas acima, pode ser um indicador de que comentários (os quais deveriam permanecer estritamente entre os muros da vida do casal) estejam sendo ventilados em conversas, mais para se ter o que falar do que para oferecer ajuda.
Para que as sogras possam sair das margens dos relacionamentos, basta que elas se lembrem de que seus filhos agora têm vida própria e de que seus conselhos, quando não forem impostos, poderão ser úteis quando solicitados.
De maneira geral, todos nós aprendemos alguma coisa com outras pessoas, assim, também será proveitoso para a sogra aprender com aquilo que a nova geração, da qual faz parte a nora, tem a ensinar.
Um abraço
Dado Moura

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

FESTA, EUFORIA E PRECIPITAÇÃO

A chegada do ano vem recheada do tempo de férias de janeiro e logo em seguida as festas da época, como o carnaval. E como “festa da carne”, como diz a origem da sua palavra, o grande apelo do período é para uma exposição exagerada de homens e mulheres buscando desenfreadamente pelo “beijo na boca, pelo ficarem por ficar e por agirem como se vivessem aquele como o último carnaval”.
É aí que vemos como a euforia pode levar a decisões impensadas, e logo àquele sentimento: “Estou amando”. Então, o que fazer? O mais sensato e adequado neste momento é esperar que a emoção do momento e a ação do tempo atuem, para iniciar ou terminar um relacionamento.
Nesta época do ano, muitos namoros começam ou acabam e muitos casamentos são abalados por atitudes impensadas ou precipitadas.
É certo que não devemos nos esconder das atividades sociais, mas sim, observar nossos comportamentos e reações; mas, como em tudo, muitas coisas são devidas, mas algumas não são adequadas para nosso plano de vida.
Já parou para pensar qual é seu plano de vida? Reflita: “Defendo determinadas posturas e tenho outras?” Faça uma revisão.
Tantas revistas e jornais divulgam que não devemos começar o ano com assuntos pendentes, com falta de iniciativa ou deixar de experimentar o novo; toda esta euforia, muitas vezes coletiva, nos invade a ponto, então, de tomarmos decisões pouco adequadas. Muitas vezes, aquelas decisões que estavam sendo adiadas. Mas, tome cuidado: não confunda a atitude consciente com uma atitude tomada por pressão do tempo, dos amigos, da opinião do outro.
Paqueras, bebida, drogas, dirigir de forma irresponsável e aventureira, tudo isso é estimulado pelo clima da época; a sensação quando esse período passa é de que sofremos uma grande ressaca moral; é o momento em que a pessoa toma consciência de tudo o que fez e da consequência dos seus atos, muitas vezes, irreparáveis.
Fica aqui uma dica: viva as festas com a alegria necessária, nos lugares que condizem com seu propósito de vida e de forma a conviver com essa alegria; aproveite de forma saudável e, especialmente, perceba, quando se trata de relacionamentos em que as euforias são passageiras que as pessoas com quem você se relaciona não estão na vida de passagem. Que o outro tem sentimentos, vivências, alegrias, mágoas e que não devemos agir de forma a machucá-lo.
Relacionamentos passam por instabilidade: não há namoro ou casamento perfeito; há sim, casamentos e namoros idealizados, os quais, certamente, existem apenas na imaginação particular de cada um de nós. Existirá, então, uma convivência que deverá ser recheada de tolerância, na qual o casal nem sempre concordará um com o outro, por isso devem fazer renúncias e agir com espírito de tolerância e negociação.
Percebemos que vivências precipitadas, muitas vezes, geram sentimentos de pura frustração, com aquele tom triste e depressivo. Cuidado com o desejo de felicidade instantânea, que cura as dores como aquele comprido forte cura qualquer dor.
Sabe aqueles momentos em que olhamos para as pessoas nessas festas e pensamos que qualquer pessoa é mais feliz que a gente? Será mesmo? Você já parou para pensar qual é o preço daquela felicidade: drogas, bebidas, sexo desregrado, prostituição do corpo e dos valores. Pense bem: é possível ser feliz, cheio de vitalidade e jovialidade, sem romper com o respeito por você mesmo e pelo outro, preservando o sagrado do seu corpo e da sua natureza humana, vivendo as festas sem recorrer à euforia desenfreada e à precipitação desnecessária que o carnaval possa gerar em sua vida.
Se você nunca fez esta experiência fica o convite para fazer um carnaval diferente em sua vida!
Elaine Ribeiro

Homilia de Bento XVI no Dia Mundial da Vida Consagrada - 02/02/10

Bento XVI presidiu, na tarde desta terça-feira, 2, na Basílica Vaticana, a Celebração das Vésperas na Festa da Apresentação do Senhor e Dia da Vida Consagrada.
Leia a homilia de Bento XVI na íntegra:
Queridos irmãos e irmãs
Na Festa da Apresentação de Jesus no Templo celebramos um mistério da vida de Cristo, ligado ao preceito da lei mosaica que prescrevia aos pais, quarenta dias depois do nascimento do primogênito, de subir ao Templo de Jerusalém para oferecer seu filho ao Senhor e para a purificação ritual da mãe (cfr. Ex 13, 1-2.2.11-16; Lv 12, 1-8). Também Maria e José cumpriram um rito, oferecendo segundo a lei – um casal de rolinhas ou de pombos. Lendo os fatos mais em profundidade compreendemos que naquele momento é Deus que apresenta seu Filho Unigênito aos homens, mediante as palavras do velho Simeão e da profetiza Ana.
Simeão de fato, proclama Jesus como "salvação" da humanidade, como "luz" de todos os povos e "sinal de contradição", porque revelará o pensamento dos corações (cfr. Lc 2, 29-35). No Oriente esta festa era chamada Hypapante, festa do encontro: de fato, Simeão e Ana, que encontram Jesus no Templo e reconhecem Nele o Messias tão esperado, representam a humanidade que encontra o seu Senhor na Igreja. Sucessivamente esta festa estende também no Ocidente, desenvolvendo, sobretudo, o símbolo da luz, e a procissão com velas, que deu origem ao termo "Candelária". Este sinal visível significa que a Igreja encontra na fé Aquele que é a "luz dos homens" e o acolhe com toda a sua fé para levar esta luz ao mundo.
Em concomitância com esta festa litúrgica, o Venerável João Paulo II, a partir de 1997, quis que fosse celebrada em toda a Igreja um dia especial da Vida Consagrada. De fato, a oblação do Filho de Deus – simbolizada pela sua apresentação no Templo – é modelo para todo homem e mulher que consagra toda a sua vida ao Senhor. Tríplice é o objetivo deste dia: sobretudo louvar e agradecer ao Senhor pelo dom da vida consagrada; em segundo lugar, promover o conhecimento e a estima pela Vida Consagrada por parte de todo o Povo de Deus; enfim, convidar os que dedicaram plenamente a própria vida à causa do Evangelho a celebrar as maravilhas que o Senhor realizou neles. Ao agradecer a vocês por terem vindo aqui hoje em grande número, neste dia a vocês particularmente dedicado, desejo saudar com grande afeto cada um de vocês: religiosos, religiosas e pessoas consagradas, expressando a minha cordial proximidade e apreço pelo bem que vocês realizam a serviço do Povo de Deus.
A breve leitura extraída da Carta aos Hebreus, há pouco proclamada, une bem os motivos que estão na origem desta significativa e bonita celebração e nos oferece alguns tópicos para a nossa reflexão. Este texto – trata-se de dois versículos, mas muito densos – abre a segunda parte da Carta aos Hebreus, introduzindo o tema central de Cristo Sumo Sacerdote. Realmente seria necessário considerar também o versículo imediatamente precedente, que diz: "Nós temos um sumo sacerdote eminente, que atravessou os céus: Jesus, o Filho de Deus. Por isso, mantenhamos firme a fé que professamos" (Hb 4,14). Este versículo mostra Jesus que vai em direção ao Pai; o sucessivo o apresenta enquanto vem até os homens. Cristo é apresentado como Mediador: é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, por isso pertence realmente ao mundo divino e ao mundo humano.
Na realidade, é próprio e somente a partir desta fé, desta profissão de fé em Jesus Cristo, o único e definitivo Mediador que na Igreja tem sentido uma vida consagrada, uma vida consagrada a Deus mediante Cristo. Tem sentido somente se Ele é realmente mediador entre Deus e nós, caso contrário se trataria somente de uma forma de sublimação ou de evasão. Se Cristo não fosse verdadeiramente Deus, e não fosse, ao mesmo tempo, plenamente homem, não respeitaria o fundamento da vida cristã enquanto tal, mas, de forma particular, não respeitaria o fundamento de toda consagração cristã do homem e da mulher. A vida consagrada, de fato, testemunha e expressa de maneira forte o buscar-se recíproco entre Deus e homem, o amor que os atrai; a pessoa consagrada, pelo fato de existir é como uma ponte rumo a Deus para todos aqueles que a encontram, um chamado, um recomeço. E tudo isto em força da mediação de Jesus Cristo, o Consagrado do Pai. O fundamento é Ele! Ele, que partilhou a nossa fragilidade, para que nós pudéssemos participar de sua natureza divina.
O nosso texto insiste, mais sobre a fé, sobre a confiança com qual a qual podemos nos aproximar do trono da graça, do momento que o nosso Sumo Sacerdote foi ele mesmo "colocado à prova em tudo como nós". Podemos nos aproximar para "receber misericórdia", encontrar graça e para ser ajudados no momento oportuno. Parece-me que estas palavras contêm uma grande verdade e dá um grande conforto para nós que recebemos o dom e o compromisso de uma especial consagração na Igreja. Penso em particular em vocês, queridos irmãos e irmãs. Vocês se aproximaram com plena confiança do trono da graça que é Cristo, de sua Cruz, de seu Coração, de sua divina presença na Eucaristia. Cada um de vocês se aproximou Dele como a uma fonte do Amor puro e fiel, um Amor tão grande e bonito que merece tudo, além de nosso tudo, porque não basta uma vida inteira a partilhar o que Cristo é e o que fez por nós. Mas vocês se aproximaram, e a cada dia vocês se aproximam Dele, também para serem ajudados no momento oportuno e na hora das provações.
As pessoas consagradas são chamadas de maneira particular a serem testemunhas desta misericórdia do Senhor, na qual o homem encontra a sua salvação. Eles mantêm vivo a experiência do perdão de Deus, porque têm a consciência de serem pessoas salvas, de serem grandes quando se consideram pequenos, de se sentirem renovadas e envolvidas pela santidade de Deus quando reconhecem o próprio pecado. Por isto, também para o homem de hoje, a vida consagrada permanece uma escola privilegiada da "compunção do coração", do reconhecimento humilde da própria miséria, mas permanece uma escola de confiança na misericórdia de Deus, em seu amor que nunca abandona. Na realidade, quanto mais nos aproximamos de Deus, ficamos mais perto Dele e nos tornamos mais úteis aos outros. As pessoas consagradas experimentam a graça, a misericórdia e o perdão de Deus não somente para si, mas também pelos irmãos, sendo chamados a levar no coração e na oração as angústias e as expectativas dos homens, sobretudo daqueles que estão longe de Deus. Em particular, as comunidades que vivem na clausura, com o seu específico compromisso de fidelidade no "estar com o Senhor", no "estar sob a cruz", realizando freqüentemente esta função vicária, unida a Cristo pela Paixão, tomando sobre si os sofrimentos e as provas dos outros e oferecendo tudo com alegria para a salvação do mundo.
Enfim, queridos amigos, queremos elevar ao Senhor um hino de ação de graças e louvor pela vida consagrada. Se ela não existisse, o mundo seria mais pobre! Além das superficiais avaliações de funcionalidade, a vida consagrada é importante por causa de seu ser sinal de gratuidade e de amor, e isso tanto mais numa sociedade que corre o risco de ser sufocada pela espiral do efêmero e pelo útil (cfr. Exort. ap. post-sinod. Vita consecrata, 105). A vida consagrada testemunha a superabundância do amor que impulsiona a perder a própria vida, como resposta a superabundância de amor do Senhor, que por primeiro perdeu a sua vida por nós. Neste momento penso nas pessoas consagradas que sentem o peso do cansaço cotidiano escasso de gratificações humanas, penso nos religiosos e nas religiosas doentes, naqueles que se sentem em dificuldades em seu apostolado... Nenhum deles é inútil, porque o Senhor os associa ao trono da graça. São um dom precioso para a Igreja e para o mundo, que tem sede de Deus e de sua Palavra.
Cheios de confiança e de reconhecimento, renovemos também nós o gesto de oferta total de nós mesmos apresentando-nos ao Templo. O Ano Sacerdotal seja uma ocasião a mais para os religiosos presbíteros, para intensificar o caminho de santificação e, para todos os consagrados e as consagradas, um estímulo para acompanhar e apoiar o seu ministério com fervorosa oração. Este ano de graça terá um momento culminante em Roma, no mês de junho próximo, no encontro internacional dos sacerdotes, ao qual convido todos os que exercem o Sagrado Ministério. Aproximemo-nos de Deus três vezes Santo, para oferecer a nossa vida e a nossa missão, pessoal e comunitária, de homens e mulheres consagrados ao Reino de Deus. Façamos este gesto interior em íntima comunhão espiritual com a Virgem Maria: enquanto a contemplamos na ação de apresentar Jesus Menino no Templo, a veneramos como primeira e perfeita consagrada, carregada por aquele Deus que ela leva nos braços; Virgem, pobre e obediente, toda dedicada a nós, porque é toda de Deus. Em sua escola, e com a sua materna ajuda, renovamos o nosso "eis-me aqui" e o nosso "sim". Amém.
Tradução: Rádio Vaticano

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

SELO COMEMORA OS 200 ANOS DE BATISMO DE NHÁ CHICA

As comemorações dos 200 anos de Batismo de Francisca de Paula de Jesus, a Serva de Deus Nhá Chica, incluem o lançamento de um “Selo Personalizado” para marcar data tão especial. Esta é apenas uma entre tantas ações que serão realizadas neste ano especial. O selo será acompanhado de um carimbo comemorativo. Ambos estarão disponíveis para colecionadores, mas também poderão ser usados em agências dos Correios. A cerimônia de lançamento está marcada para o dia 26 de fevereiro, na sede da Associação Beneficente Nhá Chica.
Francisca de Paula de Jesus será beatificada em breve pelo Vaticano. Seu processo está em fase final. Descendente de escrava, analfabeta e leiga, será a única Santa nascida no Brasil. Como não existe registro civil de sua data de nascimento, seu Batistério, preservado no Memorial sob guarda das Irmãs Franciscanas do Senhor há mais de meio século tornou-se um documento fundamental. O santo Batismo é também o fundamento de toda a vida cristã, a porta da vida no Espírito e também a porta de acesso aos demais sacramentos. Portanto uma data especial.
Para o lançamento do “Selo Personalizado”, estarão presentes, a convite das Irmãs Franciscanas do Senhor, diversas autoridades estaduais e federais, entre Ministros, Deputados, Secretários de Estado, além de Prefeitos e Vereadores de toda a região. Benfeitores e colaboradores da ABNC também participarão do evento, assim como as crianças da ABNC que vão abrilhantar a festa com o Coral Nhá Chica.
Após o lançamento do “Selo Personalizado”, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos poderá também lançar o mesmo selo como sendo comemorativo e distribuí-lo em todo o país.
“O carimbo comemorativo será usado por trinta dias na agência dos Correios de Baependi (MG), em todas as correspondências enviadas. Depois ficará por três meses no Rio de Janeiro, para uso de filatelistas de todo o Brasil” – lembra Sandra Rosental, Gerente da agência dos Correios em Baependi.
O lançamento de peças filatélicas comemorativas e personalizadas é tradição no mundo todo e no Brasil, sendo voltada para divulgar instituições e ou pessoas que tenham relevância para a história nacional, como é o caso da Serva de Deus Nhá Chica.